domingo, 17 de janeiro de 2010

[des]cursinho

O meio dia acabou de passar. Você está sentado ali, num banco vazio, rodeado de plantas de plástico e de grama sintética. Mundo artificial. Tão artificial quanto aquelas pessoas que sentaram ao seu lado nas última quatro aulas atrás. Agora todos já estão lá em baixo, indo para o shopping almoçar, mas voltarão. É que as aulas vão recomeçar. Você decide ficar. É que o almoço nunca foi muito do seu agrado e seria deprimente sentar numa mesa sozinho, sem companhia. Talvez tão deprimente quanto ficar sentado naquele banco sozinho, sem companhia.

Tudo é silêncio e você se incomoda com isso. Mas não era isso que você mais queria durante as últimas cinco horas? O silêncio finalmente é quebrado por passadas rápidas nas escadas. São os últimos alunos. Eles desviam seus olhos para você e você se incomoda com isso. Uma menina , conhecida de uma amiga sua, aproxima-se. Você já cumprimentou ela certa vez. Não lembra do seu nome direito e até fica incerto se é ela mesmo. Ela, anda em sua direção como te conhecesse. Ok, é ela. A retórica começa. "Oi, tudo bem? O que você faz aí sozinho? Não quer ir almoçar com a gente?". Você olha de soslaio para o grupo atrás dela, esperando na escada, rindo, conversando. "Não, não tenho fome." e ela se despede aliviada com a sua resposta.

Você se perde em pensamentos. Tudo parece tão distante de você. É natural. Você está tão distante das pessoas. Sentado ali, com seu velho escudo de metal na mão e um elmo pesado sobre a cabeça. Esse seu modo tão estranho de se fechar completamente em seu mundo. Você procura culpar os outros por você estar ali desolado. Afinal, a culpa não é sua se todas as pessoas são idiotas e desinteressantes. Você se sente no meio de uma conspiração. Mas você não vê, já está cego. Fechou-se tanto nesse armário que chama de quarto que a luz te cega. Ou talvez seja o chamado "mundo real" e foi você quem viveu numa bolha a vida inteira. Agora não sabe lidar com personalidades, socializar e manter uma conversa razoável. Deprimente.

Aí você olha para o seu celular. Meu Deus. Só se passaram vinte minutos. Você fuça um pouco nele. Já faz três semanas que você não recebe mensagens. A última, por acaso, foi uma resposta atrasada de que ela não poderia se encontrar com você naquele dia. Os seus puzzles já perderam a graça. Em todos você já atingiu o score máximo. Você então procura os fones no bolso da frente da sua mala. Eles estão emaranhados. Você os coloca na orelha e tenta ouvir alguma música para passar o tempo. O fone direito está falhando. Tudo bem, você não se estressa por isso. Já está acostumado a viver no automático mesmo - pelo menos durante os últimos sete meses. Mas você já enjoou delas. É que você fica tanto tempo sozinho que a sua única companhia precisa ser atualizada umas três vezes por semana.

Você se sente cansado. O que te cansa tanto? Dizem que são os estudos. Você sabe que não é verdade. São as pessoas. Você não sabe bem ao certo mas você não gosta delas. Elas parecem culpadas pela sua situação. Por que tanta felicidade? Elas não percebem que ali não é um bom lugar? Essa racionalidade te deixa louco. Você repete dentro de si: "Paciêcia, é só esse ano..."

Os burburinhos retornam. Até que não demorou tanto. Alguns vem subindo as escadas. Estão sozinhos. Parecem tristes também. Até parece que se sentem como você. Mas você não se sente acolhido por isso. Na verdade, eles parecem querer que você se afaste deles também. Vamos esquecer essas divagações. Agora é melhor levantar e procurar algum bom lugar na sala...